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Nasce a CliCA – Coalizão pelo Clima, Crianças e Adolescentes

Com participação do Instituto Alana e de várias outras organizações, a CliCA defende os direitos dos mais afetados por eventos climáticos extremos

Você sabia que as crianças e adolescentes são a população mais vulnerável a riscos climáticos extremos? Para enfrentar os reflexos da crise do clima nas infâncias, uma coalizão de organizações que atuam pelos direitos de crianças e adolescentes e pelo meio ambiente criaram a CliCA – Coalizão pelo Clima, Crianças e Adolescentes. O lançamento acontece um dia antes do 33º aniversário do Estatuto da Criança e do Adolescente, um marco legal e regulatório dos direitos humanos que contempla, inclusive, a prerrogativa de que crianças e adolescentes devem conviver em um meio ambiente saudável.

“É urgente pensarmos em ações que considerem os direitos das crianças e adolescentes em relação às mudanças climáticas, afinal, eles são hoje o grupo mais afetado por suas consequências, em especial aqueles em situação de maior vulnerabilidade – indígenas, ribeirinhos, negros, quilombolas, meninas, com deficiência, e pessoas que vivem em regiões periféricas e rurais”, diz JP Amaral, gerente de Clima e Meio Ambiente do Instituto Alana.

Eventos como ondas de calor, enchentes e secas prolongadas, causados pelo modo como nos organizamos, produzimos e consumimos, colocam em risco direitos fundamentais como o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à cultura e à dignidade, previstos em nossa Constituição Federal no princípio da prioridade absoluta que deve ser dada para crianças e adolescentes pelo estado e sociedade. “Hoje, 1 bilhão de crianças e adolescentes no mundo – metade da população infantojuvenil – estão expostos a riscos climáticos extremos. No Brasil, este número chega a 40 milhões de crianças. Foi para responder a esse desafio que criamos a CliCA”, explica Júlia Ferraz, especialista em mudanças climáticas e emergências da Plan International Brasil. 

Para Juliana Gatti, presidente do Instituto Árvores Vivas, a coalizão pretende incidir para que as políticas públicas voltadas ao clima sejam sensíveis à realidade das infâncias e adolescências em toda a sua diversidade. “Temos por objetivo realizar pesquisas e produzir conhecimento para orientar gestores públicos e privados em decisões estratégicas, incidir em políticas públicas, apoiar o desenvolvimento, regulamentação e implementação de planos municipais de enfrentamento às mudanças climáticas e a construção de respostas ao desafio urgente de proteção da vida e da natureza no Brasil”, conta. 

A Coalizão é formada por organizações como  o Instituto Alana, o Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância (CIESPI/PUC-Rio), o Centro de Recuperação e Educação Nutricional (CREN), o Instituto Árvores Vivas, o Instituto da Infância – IFAN, o Plan International Brasil, entre outras. 


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Instituto Alana colabora com relator da ONU sobre mudanças climáticas

Levar em consideração as desigualdades na hora de promover ações e ouvir crianças e adolescentes são as principais recomendações 

O Relator Especial da ONU sobre a promoção e proteção dos direitos humanos no contexto das mudanças climáticas abriu uma chamada para contribuições para a apresentação que fará na Assembleia Geral das Nações Unidas, em outubro, abordando o tema. O Instituto Alana apresentou seu posicionamento, que tem como linhas principais a necessidade de desenvolver o princípio da  justiça intergeracional, de considerar as desigualdades históricas entre Norte e Sul Global nas tomadas de decisão e, principalmente, ouvir os maiores interessados no tema: crianças e adolescentes de povos, comunidades e territórios mais afetados pelas mudanças climáticas. 

A ideia de justiça intergeracional engloba uma série de deveres e responsabilidades que as gerações presentes têm para proteger a existência e as condições de vida das futuras gerações. Ou seja, é preciso agir hoje com vistas a garantir que as crianças tenham direito a um ambiente saudável e sustentável. Embora ainda incipiente, esse conceito vem sendo incorporado no Brasil, especialmente no Supremo Tribunal Federal. 

Além de considerar e incluir o princípio da justiça intergeracional, é importante que sejam criados instrumentos efetivos para estabelecer as obrigações dos países na hora de prevenir e enfrentar os eventos extremos que têm acontecido, como secas prolongadas, enchentes e ondas de calor, que são consequência do modo como nos organizamos, produzimos e consumimos. Essas obrigações e instrumentos devem levar em consideração as enormes desigualdades existentes entre o Norte e o Sul globais, e também dentro dos países. Nesse sentido, o Instituto Alana acredita que é fundamental promover o diálogo entre os organismos internacionais de direitos humanos existentes e os povos e grupos populacionais mais afetados. Só assim será possível construir soluções sensíveis e adequadas. 

Ainda precisamos avançar no desenvolvimento de mecanismos processuais que considerem o melhor interesse de crianças e adolescentes, que são os mais afetados, em qualquer decisão judicial que possa atingir seus direitos. Para tanto, é necessário que os países adotem uma interpretação jurídica do direito a um meio ambiente limpo, saudável e sustentável como um direito difuso e coletivo, para que possa ser reivindicado coletivamente, inclusive por crianças ou organizações. No Brasil, por exemplo, existem os artigos 225 e 227 da Constituição de 1988, que nos permitem afirmar e defender os direitos das crianças e adolescentes a um meio ambiente ecologicamente equilibrado com absoluta prioridade. 

Além disso, uma oportunidade para um maior avanço será o Comentário Geral n. 26 sobre os direitos da criança e meio ambiente, com foco especial nas mudanças climáticas, que está sendo atualmente desenvolvido pelo Comitê dos Direitos da Criança da ONU. Esse documento vai estabelecer diretrizes concretas e recomendações para que países, empresas, magistrados e sociedade garantam os direitos da criança e do meio ambiente, com foco em mudanças climáticas.

Outros documentos do Alana sobre o tema:

Legal Policy Brief

Artigo Jota: ‘Injustiça climática e equidade intergeracional

Comentário Geral 26: proteção global para as crianças e para o clima

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Linguagem simples e acessibilidade digital são destaques da 16ª Conferência da Convenção da ONU sobre os direitos das pessoas com deficiência 

“Não deixar ninguém para trás significa não deixar ninguém offline”, destaca António Guterres, secretário-geral da ONU, ao falar sobre acessibilidade digital em encontro sobre os direitos de pessoas com deficiência que contou com a participação da advogada e assessora internacional do Alana

Mais de um bilhão de pessoas no mundo tem algum tipo de deficiência, revelam dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2011. Destas, estima-se que cerca de 240 milhões são crianças, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF)

Garantir a implementação da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD) para essa população faz parte dos objetivos da Conferência dos Estados Partes (COSP), um importante espaço para promover o avanço dos direitos das pessoas com deficiência em nível global. A CDPD é um tratado internacional adotado pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) que aborda especificamente as questões das pessoas com deficiência. 

O Alana esteve presente na 16ª COSP, em Nova York, nos Estados Unidos, entre os dias 12 e 15 de junho, para encontros sobre temas como a garantia de acesso igualitário e acessibilidade aos serviços de saúde sexual e reprodutiva para pessoas com deficiência; acessibilidade digital para pessoas com deficiência; e os direitos de grupos sub-representados de pessoas com deficiência, como crianças e pessoas com deficiência intelectual. 

A COSP é composta por representantes de países que ratificaram a CDPD, como o Brasil, e contou com a participação de organizações da sociedade civil que atuam com os direitos das pessoas com deficiência. O encontro ocorre anualmente na sede da ONU, em Nova York, para revisar a implementação da CDPD, promover trocas de experiências e discutir desafios e práticas na promoção desses direitos.

“A participação na COSP reforça a atuação internacional do Alana ao lado das demais organizações da sociedade civil que podem contribuir e compartilhar experiências sobre a implementação da Convenção, sobretudo a partir da perspectiva de crianças e adolescentes com deficiência do Sul Global e pessoas com deficiência intelectual”, comenta  Letícia Carvalho, advogada e assessora internacional do Alana. 


Linguagem simples

Em 2022, a Assembleia Geral da ONU adotou uma resolução (arquivo em inglês) para a promoção da linguagem simples, que reúne orientações sobre essa técnica que ajuda a transmitir informações de maneira acessível e direta para torná-las mais compreensíveis e fáceis de serem assimiladas por pessoas com diferentes níveis de habilidade linguística ou com dificuldades de compreensão de leitura. 

Neste contexto, a Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down (FBASD) e o Instituto Jô Clemente (IJC) apresentaram no encontro uma iniciativa que está sendo realizada com o apoio do Alana e que conta com a participação de pessoas com síndrome de Down e deficiência intelectual para defender e promover os seus direitos e também do grupo a que pertencem. 

Nos últimos meses, as equipes das organizações têm atuado em conjunto com grupos de autodefensores da FBASD e do IJC para incidir sobre legislações e proposições acerca dos direitos da pessoa com síndrome de Down em áreas como educação, saúde e empregabilidade.  

Acessibilidade digital

A importância da acessibilidade digital — prática que permite que o ambiente digital seja acessível para todas as pessoas, incluindo aquelas com deficiência — e das tecnologias assistivas — recursos que contribuem para proporcionar e ampliar habilidades das pessoas com deficiência — também foram temas centrais nesta edição. 

“Não deixar ninguém para trás significa não deixar ninguém offline”, comentou António Guterres, secretário- geral da ONU, na abertura da conferência. A acessibilidade é um pré-requisito para a equidade. Ao mesmo tempo, a falta de acessibilidade digital representa um grande risco de deixar pessoas com deficiência para trás nos casos em que as tecnologias digitais não são criadas com padrões de acessibilidade desde sua concepção. 

“Nossa participação destacou o compromisso de atuar para uma compreensão mais ampla de que as pessoas com deficiência representam um grupo diversificado e apresentam intersecções como idade, classe e raça que devem ser consideradas na implementação das políticas públicas”, finaliza Letícia Carvalho.

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Justiça ignora direito de mães e gestantes adolescentes no sistema socioeducativo, mostra pesquisa

Estudo traz dados inéditos que mostram que a Justiça tende a favorecer gestantes em relação às mães e que habeas corpus coletivo 143.641 beneficiou apenas 22% das meninas gestantes ou puérperas no sistema socioeducativo entre 2019 e 2021

Do total de adolescentes mães e gestantes em privação ou restrição de liberdade no sistema socioeducativo no Brasil, somente cerca de 22% foram beneficiadas, entre 2019 e 2021, pelo Habeas Corpus (HC) Coletivo nº 143.641, que permite a esse público a substituição da internação provisória por medidas não privativas de liberdade.

Este e outros números são apresentados na pesquisa Adolescência, maternidade e privação de liberdade: mães e gestantes no sistema socioeducativo entre 2018 e 2021, produzida pela pesquisadora Jalusa Silva de Arruda, professora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), a partir de dados inéditos coletados pelo Instituto Alana, que trazem informações sobre o perfil, a situação dessas meninas e do cumprimento do HC.

Em 2018, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou pelo HC 143.641 que mulheres presas, gestantes, puérperas ou mães de crianças de até 12 anos e de pessoas com deficiência tenham a substituição da prisão preventiva pela domiciliar, em cumprimento às previsões contidas no Marco Legal da Primeira Infância, no Código de Processo Penal, na Constituição Federal e nas normas internacionais de direitos humanos. Apesar de o objeto principal do HC tratar de mulheres no sistema prisional, após pedido de extensão do Instituto Alana, o STF também concedeu a ordem às meninas adolescentes no sistema socioeducativo. 

Desde então, o Instituto Alana enviou, periodicamente, pedidos aos gestores da política de atendimento socioeducativo de todo o país, com o intuito de levantar informações, entre 2018 e 2021, sobre o número de meninas adolescentes grávidas, lactantes e mães, o de transgêneros, imigrantes e indígenas nas unidades de atendimento socioeducativo, e o total de beneficiadas pelo HC 143.641. Segundo a pesquisa, entre 2019 e 2021, 508 meninas gestantes ou mães passaram pelo sistema socioeducativo, e apenas 115 (cerca de 22%) foram beneficiadas pelo HC 143.641. Os estados do Ceará, São Paulo e o Distrito Federal concentram 60 (52%) das beneficiadas pelo HC nesse período. A pesquisa não inclui dados de 2018 sobre esse tópico em razão da incompletude dos dados coletados no ano.

Esses dados são inéditos, uma vez que não há um acompanhamento específico para essa parcela da população dentro do sistema socioeducativo, ainda que diversas organizações olhem para a situação de meninas de uma forma geral. Entre as diversas conclusões levantadas pela pesquisa, uma das principais é que o HC 143.641 é restritivo no sistema de justiça juvenil. Essa hipótese é confirmada pelo número significativamente alto de meninas adolescentes e jovens, especialmente mães, inseridas no sistema socioeducativo entre os anos de 2018 e 2021, assim como pelos dados coletados nas ações e recursos fundamentados no HC 143.641 nos tribunais de justiça estaduais e distrital.

A pesquisa também indica a tendência de o HC beneficiar mais gestantes do que mães, o que pode sugerir maior sensibilidade dos agentes dos sistemas de justiça e socioeducativo em relação ao estado gestacional do que àquelas que já têm filhos. Entre 2019 e 2021, havia 35 gestantes cumprindo medida socioeducativa de internação, que impõe a privação de liberdade – a mais grave prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente –, contra 259 meninas mães no mesmo período. 

“Não é possível assegurar os direitos das crianças sem permitir que essas mães possam cuidar adequadamente de seus filhos e filhas. Por isso, enxergar, reconhecer e cumprir o dever de criar e executar políticas públicas e estabelecer o funcionamento do sistema de justiça juvenil a partir de uma lógica garantidora de direitos, com especial atenção para a centralidade de necessidades das meninas e outros grupos vulnerabilizados, é um compromisso urgente a ser assumido por todos os órgãos do sistema de garantia de direitos, pela sociedade civil e por todos os operadores do direito. Esperamos que os dados e as reflexões propostas nesta pesquisa chamem atenção para essa necessidade e possam influenciar esses atores, principalmente do poder público, na urgência dessa tarefa”, ressalta Pedro Mendes, advogado do Instituto Alana. 

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Alana participa de celebração dos 40 anos da Child Rights Connect e leva à ONU a perspectiva dos direitos de crianças do Sul Global

Agenda internacional na ONU fortalece o compromisso do Alana por um mundo onde as crianças brasileiras e do Sul Global sejam protegidas, ouvidas e tenham seus direitos respeitados

75% das crianças do planeta vivem no Sul Global, o que reforça a necessidade de considerar suas especificidades e de seus territórios em espaços de tomada de decisão. Com isso em perspectiva, o Alana esteve em Genebra, na Suíça, entre os dias 18 e 26 de maio, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), para compromissos de incidência internacional pelos direitos de crianças e adolescentes. 

Mas por que dar atenção especial às infâncias brasileiras e do Sul Global? Porque são elas que enfrentam os primeiros e mais severos impactos da emergência climática, por exemplo. 9 em cada 10 crianças na América Latina e no Caribe estão expostas a pelo menos dois choques climáticos e ambientais, como ciclones e ondas de calor, segundo o Unicef. Além disso, são elas as mais afetadas por desigualdades sociais, educacionais e econômicas que violam seus direitos fundamentais, os quais devem ser garantidos com prioridade absoluta. As crianças do Sul Global não apenas enfrentam o maior impacto dessas questões, mas também oferecem perspectivas distintas e inovadoras e devem ser vistas como agentes de mudança na construção de soluções.

“Enquanto organização da sociedade civil brasileira que possui status consultivo no Conselho Econômico e Social (ECOSOC), estar presente na sede da ONU em Genebra permite que o Alana consolide a sua atuação perante à comunidade internacional e contribua para a garantia de direitos de crianças e adolescentes globalmente”, comenta Letícia Carvalho, advogada e assessora internacional do Alana. 

A agenda em Genebra foi impulsionada pelo evento de celebração dos 40 anos da Child Rights Connect, a maior rede de organizações do mundo que atua em prol dos direitos das crianças. Vale ressaltar que o Alana é a única organização da sociedade civil brasileira presente neste grupo

O evento (disponível em inglês), que teve como tema central o protagonismo das crianças na promoção de mudanças positivas para a garantia de seus direitos, contou com a presença do Alto Comissário da ONU, Volker Türk, de membros do Comitê dos Direitos da Criança, e da ativista adolescente brasileira Catarina Lorenzo, que faz parte do Child Advisory Team, grupo formado por crianças e adolescentes que atuam como consultores da rede.

É também em Genebra que acontecem encontros do Comitê dos Direitos da Criança, em que especialistas independentes atuam para revisar a implementação da Convenção sobre os Direitos da Criança nos Estados. O tratado foi ratificado por 196 países, incluindo o Brasil, e é o instrumento de direitos humanos mais aceito na história, sendo que apenas os Estados Unidos não se comprometeram a segui-lo.

O Comitê dos Direitos da Criança também elabora comentários gerais — documentos que desempenham um papel fundamental na ampliação dos conceitos e entendimentos da Convenção —, abordando temas específicos e detalhando a aplicação prática do tratado. Neste ano, o Comitê irá lançar o Comentário Geral nº 26 sobre os direitos das crianças e o meio ambiente, com foco especial nas mudanças climáticas. 

Em encontro com Ann Skelton, que assumiu a presidência do Comitê pelos próximos dois anos, o Alana, que participou do debate regional latinoamericano realizado em Buenos Aires em 2022 sobre a elaboração do comentário, reforçou as contribuições enviadas para que os direitos de crianças mais vulnerabilizadas pelos impactos da emergência climática sejam considerados no documento. 

“Essa agenda internacional foi fundamental para identificarmos toda a potência da atuação na proteção e na garantia de direitos de crianças e adolescentes com prioridade absoluta à nível global, considerando a perspectiva única do Sul Global”, conclui Letícia Carvalho. 

– Leia também: Comentário Geral 26: proteção global para as crianças e para o clima

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Representantes do Alana são nomeados para compor grupo do Ministério da Educação de especialistas em violência contra escolas 

Coordenadores das áreas de educação e jurídica do Alana, junto de outros especialistas, irão apoiar o governo federal na elaboração de políticas de proteção ao ambiente escolar; casos de violência nas escolas têm aumentado no país desde 2019

Ataques de violência extrema contra comunidades escolares estão em alta no Brasil, revelam dados de uma pesquisa inédita do Instituto Sou da Paz. O estudo, que analisou 24 ataques ocorridos em instituições de ensino em todo o país desde o primeiro registro, em outubro de 2002, até abril de 2023, mostra que ocorreram seis ataques em escolas apenas em 2022, e outros seis no primeiro quadrimestre deste ano. 

Casos de violência em ambientes escolares, que infelizmente se repetiu na última semana, ocasionando na morte de dois estudantes em Cambé, no Paraná, exigem medidas urgentes do poder público, além de soluções de médio e longo prazo. Para responder a esses desafios, Ana Claudia Cifali, coordenadora da área jurídica do Alana, e Gabriel Salgado, coordenador da área de educação do Alana, aceitaram o convite para participar do Grupo de Trabalho de especialistas em violência contra escolas do Ministério da Educação (MEC), sob coordenação da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (Secadi). A nomeação foi anunciada no Diário Oficial da União no dia 12 de junho.

O grupo, composto por 68 membros da sociedade civil, irá apoiar o MEC na formulação de políticas de proteção ao ambiente escolar e auxiliar na escuta de demais atores da sociedade civil sobre o tema de violência nas escolas. 

“Recebemos com muito pesar a notícia de mais um ataque a tiros em uma escola nesta semana no estado do Paraná. O aumento de casos como este reflete questões profundas e complexas que temos que combater enquanto sociedade, envolvendo o extremismo, uma cultura violenta, machista, capacitista, racista e homofóbica. Também manifesta os riscos do ambiente digital para crianças e adolescentes e a nossa responsabilidade em protegê-los também nesse espaço. A atuação nesse GT é um convite ao compromisso para fortalecermos, enquanto sociedade civil, e junto com o poder público, o tipo de escola que queremos: um espaço seguro, inclusivo e democrático”, comenta a coordenadora jurídica Ana Claudia Cifali.

Além disso, os representantes do Alana reforçam a importância do comprometimento de toda a sociedade pela paz nas escolas. “É fundamental aprendermos com o que já deu certo para agirmos coletivamente e não aceitarmos alternativas que, além de ineficientes, podem agravar o problema. Será por meio do diálogo e da solidariedade — e não por meio de medidas de militarização e vigilância — que conseguiremos combater esse problema”, reforça o coordenador de educação Gabriel Salgado.

– Veja também: Como enfrentar a barbárie e educar para a solidariedade?

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Alana contribui em plataforma da ONU de acompanhamento e revisão da Agenda 2030 trazendo recorte dos impactos da Covid-19 às infâncias

Como organização com status consultivo, Alana envia submissão para Fórum da ONU que avalia, anualmente, o progresso dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS); em 2023, tema de análise é a recuperação da Agenda 2030 no contexto pós-pandemia 

Embora os indígenas representem apenas 0,5% da população brasileira, 4,4% das crianças que morreram de Covid-19 no país eram de povos originários. Crianças negras também foram afetadas de forma desproporcional na pandemia, com maiores taxas de mortalidade e de perda de mães, pais ou cuidadores.

Esse cenário revela que meninos e meninas, mesmo que tenham menor probabilidade de mortalidade de Covid-19 do que outras faixas etárias, fazem parte do grupo mais vulnerável a impactos de crises como a do coronavírus. Crianças são sujeitos em peculiar condição de desenvolvimento, e crises sanitárias como esta podem afetá-las com possíveis consequências para toda a vida. 

O decreto do fim da emergência da pandemia alerta para desafios ainda postos, como a necessidade de recuperar a aprendizagem das crianças nas escolas, e efeitos que permanecerão presentes em suas vidas, como o aumento no número de órfãos no Brasil e no mundo. É com esse olhar que o Alana buscou contribuir e dar atenção especial à garantia dos direitos às infâncias brasileiras no High-Level Political Forum (HLPF), o Fórum Político de Alto Nível da Organização das Nações Unidas (ONU). 

O Fórum é realizado anualmente para avaliar o progresso dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), uma agenda mundial composta por objetivos e metas a serem atingidos até 2030, com ações previstas em áreas como educação, segurança alimentar e redução das desigualdades.

Neste ano, a partir do tema Accelerating the recovery from the coronavirus disease (COVID-19) and the full implementation of the 2030 Agenda for Sustainable Development at all levels (“Acelerando a recuperação da epidemia do coronavírus (Covid-19) e a plena implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável em todos os níveis”, em português), o Alana deu sua primeira contribuição nessa avaliação, no caráter de organização com status consultivo. As submissões, que são enviadas por escrito, devem ser levadas em consideração em discussões da ONU. 

Na submissão do Alana, foram destacados o impacto da má gestão da pandemia nos direitos de crianças e adolescentes, com o aumento de desigualdades no acesso à educação e, como mencionado, o aumento de crianças órfãs e os impactos específicos nos direitos de crianças brasileiras negras e indígenas.

Vale lembrar que o Brasil entrou – negativamente – em evidência no cenário mundial da pandemia por ser o segundo país com mais mortes por Covid-19 de crianças na faixa de 0 a 9 anos. Esses dados estão presentes no Dossiê Infâncias e Covid-19: os impactos da gestão da pandemia sobre crianças e adolescentes, publicado pelo Instituto Alana em 2022.

No final do documento enviado à ONU, o Alana sugere medidas a serem aplicadas, como garantir a implementação da Convenção Sobre os Direitos da Criança; fortalecer as políticas de saúde pública para fornecer acesso prioritário às crianças; implementar uma estratégia multidimensional para combater a fome e a insegurança alimentar, entre outras.

“As consequências da má gestão da pandemia de Covid-19 no Brasil são inúmeras e impactam fortemente o desenvolvimento das crianças. Considerando que estamos em um momento de recuperação, é dever do Estado brasileiro colocar crianças, sobretudo, negras e indígenas, em primeiro lugar”, comenta Letícia Carvalho, advogada do Instituto Alana. 

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Crianças devem ser protegidas de publicidade ilegal de armas e munições promovida por empresas

Peças publicitárias veiculadas pela Taurus, fabricante de armas e munições, desrespeita o dever compartilhado de proteger crianças contra qualquer forma de violência

A exposição de crianças a armas apresenta uma série de riscos à sua vida e ao seu desenvolvimento integral, com consequências negativas que vão desde a naturalização do uso desse tipo de produto a ameaças à segurança e à saúde de meninos e meninas. 

A cada 60 minutos uma criança ou adolescente morre no Brasil em decorrência de ferimentos por arma de fogo, revela um estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Pediatria. Segundo a análise, a cada duas horas, em média, uma criança ou adolescente dá entrada em um hospital da rede pública de saúde com ferimento por disparo de algum tipo de arma. 

“Crianças devem ser protegidas contra qualquer forma de violência. A Constituição Federal assegura que elas devem ter seus direitos garantidos e efetivados com prioridade absoluta e atribui responsabilidade compartilhada entre Estado, família e sociedade, inclusive empresas, para a salvaguarda desses direitos”, afirma Ana Claudia Cifali, coordenadora jurídica do Instituto Alana. 

À vista disso, o Instituto Alana elaborou um parecer em apoio à argumentação de uma ação civil pública proposta pela Comissão Arns, IDEC e Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), que questiona uma campanha publicitária da Taurus, fabricante brasileira de armas de fogo. 

O patrocínio de anúncios em redes sociais e no site da fabricante para a ampliação de vendas de armas e munições, produtos de comercialização restrita, é considerado propaganda ilegal e abusiva, compromentendo o dever de garantia de cuidado e proteção, com prioridade absoluta, no que diz respeito aos direitos de crianças e adolescentes.

Isso porque vídeos e fotos desse caráter são totalmente inadequados para figurarem em perfil aberto em redes sociais que podem ser acessadas por crianças a partir de 13 anos (conforme termos de uso de redes sociais), sendo, portanto, publicações violadoras de direitos. 

Vale lembrar que, ainda que os termos de uso de redes como TikTok, Instagram e Facebook vedem a utilização da plataforma por pessoas com menos de 13 anos, elas são largamente utilizadas pelo público infantil.

Atualmente, grande parte das crianças e dos adolescentes estão no ambiente digital. Em 2017, 1 a cada 3 usuários na internet era uma criança, segundo dados do UNICEF. Em termos comparativos, os jovens são a parcela da população mais conectada, e, por vezes, estão nesses ambientes distantes do acompanhamento e moderação de seus pais, mães ou responsáveis, ou seja, é essencial protegê-los de uma exposição prejudicial ao utilizarem essas tecnologias.

Ao navegarem em espaços digitais que não são apropriados para suas idades, crianças, em especial, podem correr riscos diversos. Para além daqueles que costumamos instantaneamente pensar, como contatos maliciosos, discurso de ódio, formas de praticar suicídio ou automutilação, pornografia, uso de drogas e violência, também há outros tão danosos quanto esses mencionados, mas menos debatidos, como o acesso a conteúdos comerciais inadequados para suas idades, caso em que enquadram-se os armamentos e munições. 

61% das crianças e adolescentes de 11 a 17 anos relataram já ter tido contato com publicidade nas redes sociais, aponta a pesquisa TIC Kids Online de 2021

“Por isso, é imprescindível discutir como a publicidade digital de armas e munições afeta, além dos usuários adultos, as crianças e adolescentes que comprovadamente também estão nas redes sociais, sites e plataformas digitais e cujos direitos devem ser respeitados com prioridade absoluta”, afirma Ana Cifali.

As publicações veiculadas pela empresa são expressamente proibidas pelo Estatuto do Desarmamento, que prevê o veto da veiculação de propaganda que promova o uso indiscriminado de armas de fogo.

Além disso, o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) prevê a proteção de crianças de toda a comunicação, mercadológica ou não, que promova o uso de armas de fogo, ao estabelecer, em seu artigo 79, que todas as “revistas e publicações destinadas ao público infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco, armas e munições, e deverão respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família.”

Mais amplamente, o ECA garante também a proteção da criança contra qualquer forma de violência (art. 5º), bem como a efetivação plena de seu direito à educação (art. 4º) e à vivência de condições plenas para seu desenvolvimento (art. 3º).

A ampla dispersão de armas de fogo e munições na sociedade brasileira também provoca efeitos irreparáveis no direito de convivência familiar de crianças e adolescentes. Para além da mortalidade desse público, o armamento da população amplia a mortalidade geral, sendo inegável que terá como efeito a morte de pessoas que são mães, pais e cuidadores, o que, consequentemente, eleva os índices de orfandade e acolhimento institucional ou separação entre pais e filhos, sejam as vítimas civis ou policiais. 

Ainda, impede que crianças possam usufruir de forma mais livre da convivência comunitária e social, de ir e vir e de brincar em espaços públicos e escolares impactados por uma guerra deflagrada por tiros e balas em muitas comunidades brasileiras.

Enquanto empresa brasileira, a Taurus compartilha do dever de proteger as crianças de qualquer forma de violência, inclusive aquela incitada pelas armas.

“Aqui também está em jogo o direito basilar do ser humano: a vida. O homicídio é a principal causa de mortalidade juvenil, responsável pela parcela de 55,6% das mortes de jovens entre 15 e 19 anos. Em números absolutos, o Brasil é o país do mundo, sem guerras declaradas, que mais vitima pessoas de até 19 anos em homicídios”, finaliza Ana Cifali.

Confira o posicionamento do Instituto Alana na íntegra.

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Composição da Banda Alana é selecionada entre mais de 50 iniciativas pelo mundo para ser apresentada no Carnegie Hall

Canção composta durante oficinas de música de projeto piloto realizado pela Banda Alana, em parceria com famílias em situação de vulnerabilidade social, foi apresentada no concerto anual da mais famosa casa de espetáculos dos Estados Unidos, o Carnegie Hall

Uma música da Banda Alana – iniciativa do Instituto Alana desenvolvida na zona leste de São Paulo – foi selecionada entre mais de 50 iniciativas para o concerto anual do Carnegie Hall, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, realizado em 3 de junho. A canção foi produzida durante as oficinas do projeto piloto chamado Lullaby (canção de ninar, em inglês), realizado com famílias de Jundiaí, em São Paulo, que vivem em situação de vulnerabilidade social.

O Lullaby convida gestantes, novos pais e mães para compor e cantar músicas de ninar personalizadas para seus filhos, com o apoio de artistas profissionais.

O espetáculo no Carnegie Hall, que celebra as composições escritas por famílias da cidade de Nova Iorque, contou com uma seleção de três músicas internacionais, bem como as histórias por trás das letras e melodia, da comunidade de pais e mães, compositores e parceiros globais da iniciativa – que, no caso da Banda Alana, revelou a história da mãe Rejane Lima e de suas filhas, Letícia e Nicolly.

A iniciativa, trazida ao Brasil pelo Alana em parceria com a Bernard van Leer Foundation, a Prefeitura de Jundiaí e com realização da Banda Alana, busca promover a saúde mental materna, o desenvolvimento infantil e o fortalecimento do vínculo entre pais e filhos.

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Um prêmio para mapear a biodiversidade

O XPrize Rainforest | Alana está em sua etapa semifinal: em Singapura, 13 equipes vão testar diferentes tecnologias para mapear a biodiversidade de florestas tropicais e, no final, o prêmio entregará 10 milhões de dólares aos vencedores.

Quantos tipos de plantas, animais e microrganismos você acha que existam no planeta? Sabe-se que cientistas conseguiram mapear cerca de 1,5 milhão de espécies, no entanto, pesquisas estimam que convivemos com cerca de 9 milhões tipos de fauna e flora que ainda não conhecemos. Isso significa que mais de 80% da biodiversidade do planeta é desconhecidas e não foi catalogada.

Descobrir e proteger a imensa variedade que existe nessas florestas é essencial para a sobrevivência da humanidade. Afinal, da preservação da biodiversidade dependem o ar que respiramos, a comida que comemos e os remédios que nos curam, entre muitos outros elementos.

Para colaborar com esse grande desafio da humanidade, a Alana Foundation está patrocinando o prêmio XPrize Rainforest | Alana: uma competição mundial para desenvolver novas tecnologias que vão mapear um pouco mais a biodiversidade nas florestas tropicais. E além de milhões de possibilidades que ainda nem descobrimos, o que impulsiona mais e mais essa busca é saber que nas florestas estão respostas para perguntas que nem formulamos.

O que é o prêmio XPrize Rainforest | Alana?

No valor de 10 milhões de dólares, o prêmio tem duração de 5 anos e incentiva equipes a desenvolverem soluções e tecnologias autônomas para o mapear a biodiversidade das florestas tropicais no mundo. Para vencer a competição, uma equipe precisará pesquisar a maior biodiversidade contida em 100 hectares de floresta tropical em 24 horas e fornecer os conhecimentos mais impactantes em 48 horas. Das 25 equipes inscritas inicialmente, 13 foram selecionadas para as semifinais e se encontraram em Singapura em 24 de maio. A proximidade de florestas tropicais aliada aos recursos da cidade será essencial para fazer os primeiros testes das tecnologias, que devem ser expansíveis e acessíveis.

Quadro que ilustra os números do XPrize Rainforest, com suas 4 etapas, 9 conselheiros e 9 jurados, 10 milhões de dólares em prêmios e equipes de 18 países competindo

As equipes bem-sucedidas nas semifinais passarão a testar suas tecnologias em um local remoto, com menos recursos. O XPrize Rainforest | Alana beneficia não só o Brasil, que possui a maior floresta tropical do mundo, mas também outros 9 países na América Latina, África e Ásia. Mapear a biodiversidade das florestas tropicais é importante para criar mais oportunidades para todos. “Agora é a hora de fazer investimentos ousados ​​na conservação da biodiversidade do nosso planeta e apoiar nossas comunidades indígenas e locais. O prêmio gerará dados e conhecimentos críticos para a preservação de nossas florestas tropicais, sua cultura e pessoas, que são essenciais para estabilizar o clima da Terra”, disse Ana Lúcia Villela, fundadora e presidente da Alana Foundation.