Quanto existe de verde nas escolas? E em seu entorno? Quais e quantas escolas estão em áreas extremamente quentes ou correm risco de alagamento, deslizamento e outros? E como essas informações se conectam com desigualdades raciais, territoriais e socioeconômicas? A partir dessas perguntas, propostas pelo Instituto Alana, o MapBiomas produziu dados inéditos sobre 20.635 escolas de educação básica (educação infantil e ensino fundamental), públicas e particulares, em todas as capitais do país e em Brasília. A pesquisa inédita “O Acesso ao Verde e a Resiliência Climática nas Escolas das Capitais Brasileiras” foi desenvolvida de forma conjunta pelo Instituto Alana e pela Fiquem Sabendo. Se trata de um primeiro passo para compreender quanto existe de natureza nas escolas, como elas estão expostas a riscos climáticos e como esses fatores se relacionam com raça, localização e índices socioeconômicos.
Qual é a realidade das escolas hoje?
A pesquisa mostrou que cerca de 370 mil alunos matriculados na educação infantil e no ensino fundamental estudam em escolas localizadas em áreas de risco, sendo que 90% dessas escolas estão dentro ou até em um raio de 500 metros de favelas e comunidades urbanas, evidenciando a conexão entre desigualdades e fatores climáticos. A maior parte das escolas em áreas de risco (51%) têm maioria de alunos negros, percentual que cai para apenas 4,7% nas escolas com maioria de alunos que se declaram brancos, dados que apontam o racismo ambiental existente.
O estudo também mostra que 4 entre 10 escolas não têm áreas verdes em seus lotes (37,4%). E a situação se agrava na educação infantil: 43.5% das escolas com alunos matriculados na educação infantil não têm áreas verdes.Ao contrário do senso comum, que acaba por considerar, em geral, as escolas particulares melhor equipadas do que as públicas, quando se trata de acesso ao verde, as escolas públicas estão melhor colocadas: 31% das escolas públicas têm mais de 30% de área verde no lote, percentual que cai para apenas 9% entre as particulares.
Essa falta de verde é agravada por desigualdades raciais e econômicas, sendo maior para estudantes que vivem em favelas e comunidades urbanas, bem como para alunos negros. São eles, também, os que estudam em escolas localizadas em ilhas de calor: cerca de 35% das escolas em áreas com temperaturas 3,57 graus acima da temperatura média da capital são escolas com maioria de alunos negros, enquanto apenas 8,6% são escolas com maioria de alunos brancos.
Mas por que entender o quanto de verde existe nas escolas e como isso se conecta com vulnerabilidades e riscos?
Hoje, 80% das crianças brasileiras vivem em centros urbanos e têm cada vez menos acesso a áreas verdes. Embora esteja cientificamente comprovado que o contato com a natureza melhora todos os indicadores de saúde e bem-estar de crianças e adolescentes – como imunidade, memória, sono, estresse, capacidade de aprendizado, sociabilidade e capacidade física –, nossas cidades, cada vez mais cimentadas, com trânsito intenso e insegurança, arrastam crianças e adolescentes para os espaços internos – e para as telas. Para muitas delas, a escola pode ser o único lugar onde o contato com a natureza ocorra.
Ao mesmo tempo, o clima mudou e é preciso identificar as escolas mais vulneráveis às ondas de calor, alagamentos, enchentes e deslizamentos e agir para reduzir os riscos e aumentar sua resiliência, uma vez que crianças e adolescentes são justamente as mais afetadas por eventos climáticos extremos.
Existem oportunidades?
O Alana acredita que sim: a natureza deve ser fonte de saúde e aprendizado e não uma ameaça para as crianças. Nesse sentido, as escolas podem ter um papel central na promoção de acesso a áreas verdes e na adaptação ao novo clima, incluindo mais natureza em seus espaços e currículos. Escolas são equipamentos públicos numerosos e bem distribuídos pelo território. Quebrar o cimento, plantar árvores e adotar soluções baseadas na natureza — como jardins de chuva, captação e tratamento de água, restauração de vegetação nativa e compostagem —, irá contribuir para prevenir enchentes, equilibrar o calor, aumentar a biodiversidade e, ao mesmo tempo, trazer benefícios para a saúde física e mental das crianças.
As escolas são, também, centros de conhecimento e cultura. Transformá-las em lugares mais verdes, resilientes e melhor adaptados, e envolver alunos, comunidade escolar e as famílias nesse processo, resultará em uma nova educação ambiental e climática. Criar praças e parques em seus entornos, principalmente nas áreas mais vulneráveis, dará às crianças oportunidades para brincar e aprender ao ar livre em seu dia-a-dia, permitindo que desenvolvam um vínculo com a natureza, o que também fomentará atitudes de maior cuidado e preservação no futuro.