Integrantes do Instituto Ar e do Instituto Alana durante evento sobre qualidade do /ar seguram novo estudo

Estudo sobre poluição do ar mostra o que fazer para proteger as crianças durante episódios críticos

FacebookXLinkedInWhatsAppEmail

Com frequência cada vez maior, cidades brasileiras vêm atingindo picos de poluição do ar, os chamados “episódios críticos”. Dia 18 de agosto, por exemplo, São Paulo registrou o pior índice de qualidade do ar deste inverno, segundo a Cetesb: 212µg/m³ MP2,5, ou seja: 212 microgramas por metro cúbico de material particulado de 2,5 mícrons de diâmetro. Em abril, Boa Vista chegou a números ainda mais altos que os de São Paulo (317µg/m³ MP2,5). O mesmo ocorreu com Manaus, em outubro passado (499µg/m³ MP2,5). Para efeito de comparação, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera aceitável até 15 µg/m3 de material particulado no ar. As crianças, principalmente recém-nascidas e nos primeiros anos de vida, estão entre as mais atingidas: a poluição do ar pode causar danos irreversíveis à sua saúde.


Para entender melhor os índices utilizados e os protocolos adotados em diferentes países quando níveis muito altos de poluição são alcançados, o Instituto Alana e o Instituto Ar fizeram o estudo “Qualidade do ar em alerta“, lançado durante o evento “Episódios Críticos da Poluição do Ar”, realizado pelo  Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e pelo Ministério da Saúde, no dia 20, em Brasília. O levantamento traz uma análise comparativa de níveis críticos e de planos de emergência adotados em oito locais: Brasil, Chile, Colômbia e Equador (América do Sul); Estados Unidos e México (América do Norte) e Espanha, França e Inglaterra (Europa). O resultado mostra que o Brasil deixa muito a desejar quando se trata de proteger a população, em especial as crianças.


“Quando se atingem níveis de poluição do ar muito altos, a situação pode necessitar ações imediatas para a redução de emissões e proteção à saúde da população. Na pesquisa, o Brasil e o Equador possuem os piores resultados. Nosso país está desatualizado há mais de 35 anos e nenhum Estado tem um plano de ação para episódios críticos, a não ser São Paulo, cujo plano é de 1978, muito desatualizado. Ou seja: não atuamos”, diz Evangelina Araújo, especialista em qualidade do ar e diretora executiva do Instituto Ar, que coordenou o estudo.


Documentos da Organização Mundial da Saúde indicam que a poluição atmosférica representa, hoje, um dos maiores fatores de risco ambiental para a saúde humana. Segundo a OMS, 50 mil brasileiros morrem a cada ano devido à poluição atmosférica. Os padrões de qualidade em nosso país seguem índices estabelecidos em 1990. E mesmo com picos de poluição até cinco vezes mais altos do que nos países analisados no novo estudo – somos superados apenas pelo Equador – raramente os níveis estabelecidos são alcançados, por serem muito brandos e defasados. 

O levantamento, que destaca as principais leis internacionais de qualidade do ar, mostra medidas adotadas para proteger as crianças durante episódios críticos de poluição. “Tanto em São Paulo, que ultrapassou o nível estipulado para o “alerta”, quanto em Boa Vista ou em Manaus, onde a fumaça gerada pelas queimadas florestais sufocou a cidade em outubro passado, sendo considerada a terceira cidade com o ar mais poluído do mundo, chegando ao dobro do limite do Índice de Qualidade do Ar (IQAr) estabelecido para o estado de “emergência”, nada foi feito”, diz JP Amaral, gerente de Natureza do Instituto Alana.

Soluções adotadas a médio e longo prazo, como o incentivo à mobilidade ativa nas cidades e a criação de áreas verdes e parques nos entornos escolares, quanto medidas para episódios críticos, já adotadas internacionalmente, são adotadas pelo estudo. Na Colômbia, por exemplo, o Plan para la atención de episodios de contaminación del aire del área metropolitana de Bucaramanga (CDMB), contempla ações imediatas para a proteção das crianças em episódios críticos de poluição. Quando o índice de qualidade do ar está em “alerta”, as escolas suspendem as aulas em toda a área que está dentro desse nível específico de concentração de poluentes. Em casos de emergência ocorre até a evacuação de toda a população exposta à poluição no perímetro.

Nos Estados Unidos, o plano Air Now, também tem diretrizes voltadas a ações gerais e outras específicas para escolas. Os protocolos iniciam no nível de qualidade do ar “moderado”, quando são dadas recomendações para que atividades físicas ao ar livre tenham o tempo e a intensidade reduzidos. Já na Espanha, os “programas estratégicos horizontais” apresentam ações para a melhoria da qualidade do ar a longo prazo. Por lá, o objetivo é criar uma ação de proteção para os grupos sensíveis a partir dos resultados de pesquisas epidemiológicas feitas em áreas prioritárias, como as zonas escolares e, assim, determinar os planos de vigilância epidemiológica de modo mais assertivo. 

Em Londres, a estratégia também é de longo prazo: o Health School Street adota uma série de medidas, como a diminuição do tráfego de veículos, a implementação de ciclofaixas, de áreas verdes e de parques nos entornos escolares, que têm índices de poluição monitorados por sensores. “O nosso país está atrasado nesse debate em relação a outras nações, inclusive da América do Sul. O Brasil tem o dever constitucional e moral de combater a poluição e mitigar episódios críticos, de modo a garantir a saúde e a qualidade de vida para as crianças e para toda a população”, diz JP Amaral.