Infâncias urbanas

Infâncias urbanas é um termo que se refere às múltiplas infâncias vividas em cidades. No Brasil, 84% da população vive em centros urbanos. A experiência que as crianças deste contexto terão, contudo, será muito diferente dependendo de sua posição social, econômica, territorial, cultural, de sua raça, gênero, oportunidades e ambiente familiar, por isso falamos em múltiplas infâncias.

Por causa da falta de segurança, nos diversos contextos socioeconômicos, as famílias priorizam manter as crianças confinadas em ambientes fechados e privados. Apesar dessa atitude representar uma forma de cuidado, o fato é que isso mantêm as crianças apartadas dos espaços públicos e áreas abertas. Assim, elas têm poucas oportunidades de brincar de forma não dirigida e gradualmente experimentar uma vivência autônoma da cidade, caracterizada pela liberdade de movimento e de ir e vir.

O modelo atual de crescimento das cidades e a disputa pelo uso e destino dos espaços livres compromete a oferta e acesso a áreas verdes, que estão sendo substituídas por edificações e os espaços externos são cobertos e impermeabilizados por cimento. Com isso, restam poucas oportunidades de estar em áreas naturais públicas e privadas, em casas, prédios, escolas, praças e parques. Assim, há menos terra, grama, formigas, pauzinhos e folhas para as crianças brincarem.

São Paulo tem apenas 2,6 m² de áreas verdes por pessoa. O padrão internacional recomenda 12 m². A média geral já é considerada baixa por especialistas, mas alguns bairros, na região central e na periferia, enfrentam paisagens ainda mais cinzentas. Mesmo tendo a maior área de mata da cidade, o bairro de Parelheiros, por exemplo, tem 0,29 m² de praças e parques por habitante.

O confinamento também decorre do fato de que as pessoas e a natureza estão perdendo espaço para os veículos motores. Em 2017 havia um carro para cada 4,8 brasileiros. A rua deixou de ser espaço de encontro onde a criança pode brincar e andar livremente.