Bem-viver

O bem-viver é uma filosofia que sustenta as diferentes formas de organização social de povos indígenas da América Latina. É uma lógica que valoriza os princípios da reciprocidade entre as pessoas, da amizade fraterna e da convivência com outros seres da natureza, além do sentimento de profundo respeito pela terra. Ela considera viver sem ser à custa de outros seres e da natureza, principalmente quando falamos de padrões de consumo, transporte, alimentação e trabalho.

Na filosofia do bem-viver, o estado é plurinacional e participativo. O sistema econômico funciona sob a lógica do social e do sustentável, e não do lucro. Seus princípios: a solidariedade e a reciprocidade, além da responsabilidade e da integralidade. Isso significa que as bases são comunitárias, e o sistema é formado por pessoas e para pessoas, mesmo que isso signifique por vezes uma diminuição do crescimento econômico, por exemplo.

É sob esses preceitos que vivem diversas comunidades nativas latinoamericanas, e mergulhadas nessa lógica que nascem e crescem muitas crianças indígenas. O bem-viver, apesar disso, dialoga diretamente com os principais problemas da contemporaneidade, e não deve ficar recluso a esses espaços. Uma vivência mais solidária e participativa pode beneficiar a todos nós e a crianças imersas em diferentes territórios e realidades.

Em primeiro lugar, porque tem a sustentabilidade como eixo central de seu funcionamento. O bem-viver se propõe a pensar formas de organização que privilegiem a relação com os demais e com a natureza, que resistam às barreiras do tempo e que nos salvem dos horrores da destruição do planeta. É a opção de construir um mundo habitável para as próximas gerações.

Também porque propõe algo muito próprio da infância: a possibilidade do sonho, de imaginar novos mundos possíveis e do criar junto, desaprendendo e reaprendendo o antigo. Isso nada mais é que o exercício do brincar tão caro às crianças, que propõe lançarmos novos olhares ao mundo e ao entorno, questionarmos a vida como ela nos é apresentada e de construir novas pontes para o futuro. 

É por isso que o bem-viver está alinhado com os direitos das crianças e com as necessidades para seu desenvolvimento saudável. Ele colabora diretamente para questões essenciais à infância não apenas indígena, mas de todos os lugares, infâncias estas que pressupõem o convívio e o respeito à natureza, a criação de vínculos por meio da solidariedade e da amizade e a construção de uma comunidade sólida, um ambiente de abrigo e respeito.